O Lado Escuro da Lua

     Já notou quão paradoxal é o fato de que nossa era humanista coloca o homem no centro do universo, mas, depois desses últimos séculos, o que nos restou como sociedade secular foi um bando de gente deprimida e ansiosa? Ajuda a entender se a gente pensar em termos comparativos. A Bíblia diz em Gênesis 1 que os astros foram colocados no céu para sinais, e eu sempre penso que tudo que nós precisamos saber de nós mesmos já aconteceu de alguma forma com as estrelas e planetas.

     Pensa comigo: a Terra gira em torno do Sol, a Lua gira em torno da Terra. A Terra é muito menor que o Sol, a Lua é muito menor que a Terra. O que faz um corpo celeste girar em torno do outro é a atração gravitacional que eles exercem – e, segundo a lei da gravitação universal, a força de atração mútua é proporcional às suas massas. Ou seja, um corpo só consegue fazer com que outros girem ao seu redor se ele for grande o bastante para sustentá-los.

     Se você pensar nos planetas como pessoas, e tentar montar uma cena em que a Lua decide que é o centro do sistema solar, agora, talvez a gente veria uma Lua esgotada de tentar sustentar todos os planetas e estrelas entre o Sol e aquilo que a gente chamava de Plutão. Talvez a gente sequer visse mais uma Lua, mas vários fragmentos de um corpo celeste arrebentado por um peso que sequer tinha estrutura pra suportar. Ou, talvez, a gente veria exatamente o que continuamos vendo, ou supondo que vemos, quando olhamos pro céu – Sol, Lua, planetas, todos no mesmo lugar – , porque a vontade da Lua de ser o centro desse sistema não inverte a ordem das coisas, não substitui a força gravitacional que o Sol exerce e mantém a Terra no mesmíssimo lugar, dando uma volta em torno do próprio eixo por dia.

     O problema, então, seria todo da Lua, porque, enquanto o universo continuaria girando e se expandindo da mesma forma, independente do que ela ache ou deixe de achar, na cabeça dela, todas as referências estariam invertidas, e talvez, em algum ponto, ela até acreditasse que a Terra estava o tempo todo girando em torno dela. E talvez causar o movimento das marés reforçasse essa ilusão de que era tudo sobre ela, no final das contas, e era tudo questão de ponto de vista mesmo, pra que ela descobrisse o próprio valor como ponto focal do universo. E, talvez ela começasse a achar que tinha luz própria, de tanto desprezar o Sol, e se deixasse esquecer que era apenas um reflexo, algum tipo de imagem, e que tinha um lado permanentemente escuro.

     Aconteceu, no entanto, que, no girar dos astros, todos se alinharam, e a Terra entrou no caminho do Sol. Houve escuridão sobre a face da Lua. Foi Pink Floyd quem nos deixou essa de presente – não existe um lado escuro da Lua; ela é, de fato, inteira trevas. Será que, então, ela se daria conta de que não tinha luz própria, e se deixaria afogar nas trevas? Será que seria capaz de crer que, em algum momento, o Eclipse passaria? Talvez, muito tempo depois, ela se daria conta de que não era a sua força que fazia o sistema girar, mas talvez ela aprendesse a relevar todos os fatos se sobrevivesse ao primeiro Eclipse e conseguisse suportar o tempo de escuridão, em prol da sua ilusão. Talvez a Lua seja uma grande iludida, sobrevivendo à todas as suas fases e seus ciclos de 28 dias, recusando-se a reportar-se ao Sol como sendo a fonte de Luz.

     Salmos 89:37 chama a Lua de uma “fiel testemunha” no céu. Eu sei, eu sei, aquilo fala da Aliança de Deus com Davi, mas não é uma imagem fascinante? Já ouvi gente dizendo que nós somos muito parecidos com as árvores, mas acho que somos muito parecidos com os corpos celestes, flutuando sob um campo gravitacional muito maior que o seu, sendo iluminados por uma Estrela muito maior que si, e ficando fascinados demais com o reflexo pra lembrar que somos feitos de escuridão, e que precisamos do Sol todos os dias. Nossa força não muda a forma como os dias giram, mas depende da nossa honestidade com os fatos reconhecer qual é a verdadeira ordem que faz surgir as estações. Aliás, a Bíblia também diz isso em Gênesis 1, não?

     Acho que era Kant quem dizia que não existiu nenhuma Revolução Copernicana, porque Copérnico não foi lá e tirou a Terra e substituiu pelo Sol no centro do sistema – só revelou a Verdade das coisas. Mas talvez o ponto que Kant não quisesse admitir é que a Verdade é a coisa mais revolucionária de todas, e traga os mais significativos impactos profundos pra história de quem vê a realidade sob o ponto de vista de correto. Neste momento, por exemplo, está muito calor, e eu não consigo pensar mais no Sol como Deus, mas como uma metáfora do inferno – mas isso não é mais assunto pra agora.

     [featured image by user Shinzo_Shikimira on Reddit]

1 Comment

  1. Seus textos, suas reflexões, seus devocionais..menina o jeito que Deus te usa com esse dom da escrita tem alcançado minha alma e me feito muitas das vezes regozijar de alegria ou de profundos pensamentos, mas ainda sim continue escrevendo, continue com os blogs pois sei que não é só um mais muitos corações que tem sido alcançados através dos seus textos. Grande abraço e obrigado por ter criado os blogs ❤

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