Promessa

Eu tenho promessa a cumprir, meu bem.
Promessa comigo, promessa contigo.
Promessa de Amor e Cuidado.
Mas eu não consigo cumpri-las duas, meu bem,
Já que estamos tão separados.
Pois eu quero ser feliz, quero muito,
Mas, acima, quero-te feliz.
A tua felicidade e a tua tristeza me doem o peito em todo tempo.
Pois teu sorriso, tão grande e bonito, não é meu.
E tuas lágrimas, tão secas e salgadas, se acumulam dentro de ti.
Mas não há como que eu encontre felicidade aqui
Sem que eu sacrifique minhas promessas para contigo;
Essas promessas pequenas.
(Tão pequenas que cabem na palma da minha mão)
Eu não sei qual promessa manter, meu bem.
Eu não sei o melhor a fazer, eu não sei qual caminho tomar.
Eu não sei se é egoísmo se te deixo pra trás.
Mesmo que sempre exista alguém para ocupar o meu lugar.
E eu não sei o que fazer do altruísmo dessa vez.
Eu não sei se quero tanto ser feliz;
Eu não sei se quero tanto ser feliz, assim.

Luto


Eu não me sentarei aqui, senhor,

Só porque você acha que eu deva me sentar
Enquanto estou de luto,
Só porque estou de preto;
Pois eu não choro, senhor, não mais; repare
Nesses braços nervosos,
Nesses olhos ansiosos
Por definirem um novo caminho a seguir.
Eu não me calarei de vez, senhor,
Só porque você acha que eu deva me calar
Se a minha voz já não sai de cima, como antes;
Pois eu não sou de morte, não sou desânimo,
Não farei da perda minha morte certeira,
E não estou de luto pela vida inteira;
Mas eu luto, e a luta não para,
E a Vida não para, ainda que nos escorra pelos dedos frios.
Mesmo sendo tão menor que o [mundo] todo,
Somos nós todos um mundo só,
E não nos deixamos sentar por mais que um minuto;
Eu não me deixo descansar enquanto exista AR.
E eu também não permito, senhor,
Que você, ou outros, digam que tudo acabou;
A minha estrada só começou,
E a nossa luta não terminou.

Tu és o Sol que ilumina minha janela


Se eu sou uma casa, um templo, uma edificação,
Tu és a Luz, és o Sol, que me traz calor e iluminação,
Mas só fica de fora, nunca entra, não passa da porta,
E pelas janelas fechadas te vejo sorrindo, sorrio de volta.
É bom que tu venhas, e dance na grama do jardim
Teus raios encontram as esquadrias cerradas de mim
E formam sombras dançantes nas paredes de dentro
E eu me sinto segura, feliz e aquecida, no momento.
Tu és tão mais brilhante que aquilo que eu possa tocar
Por isso te deixo de fora, distante, fácil de olhar
Fácil de olhar sem que percebas, e é assim que precisa ser:
Deixa que eu fique aqui, sozinha; só me faça aquecer.
Mas, por favor, não se esqueça de que, mesmo escondida, estou aqui.  

Do clichê dos corações viajantes

Das melhores viagens, não se volta totalmente;
Fica o coração, um pedaço da alma, um sorriso travado,
Preso entre as pedras da rua –
Da última rua em que pisei, antes que fosse embora.
Das melhores viagens, não se esquece totalmente;
O tempo e o vento transformam as boas e más lembranças
Em um só sopro de memória, revigorante e fresca
Como a brisa do nascer do Sol depois de uma noite virada
As melhores viagens não são superadas totalmente;
E qualquer forma de retorno causa a insegurança
De não experimentar da mesma intensidade, da mesma alegria,
E preservar a beleza dos momentos únicos experimentados.

MIXTAPE


Eu queria poder gravar em fita
Todas as músicas bonitas que tocam
Na minha cabeça quando você passa;
E que me lembram você, de alguma forma.
E eu queria gravar e não botar o meu nome,
Guardar escondida na sua mochila,
Pra que você encontre e não saiba quem fez,
Quem pensa em ti escutando essas melodias.
Então, talvez, entre uma faixa e outra
Você se lembre que, um dia
Discutindo e falando sobre a Vida
Fui eu quem lhe cantei a tal canção
Que estava tocando no seu toca-fitas.

Este post originalmente continha uma playlist (secreta) feita no grooveshark. Como o grooveshark não existe mais, eu substituí o link por outra playlist, no Spotify. Eu ia simplesmente colocar uma playlist antiga qualquer, mas decidi que precisava fazer uma nova. Ela não está pública, então fica como um segredinho de todo mundo que encontrar esse post. Não são nem de longe as mesmas músicas que eu escutava quando escrevi este poema – são as músicas que me faziam pensar na última pessoa por quem eu tive sentimentos. Nunca compartilhei essa coleção com outros, então fica só entre nós 🙂

Eu também não sei, rapaz

A Vida é um eterno não saber
Não saber de ontem, hoje ou amanhã
Se você não sabe, eu também não sei
E isso é normal, rapaz, isso é normal
É que a gente se esconde sempre
Atrás de decepções tais
E nem consegue mais enxergar
Do quanto é realmente capaz
Então toma aqui um abraço, rapaz
E cesse de ter medo, agora
Cesse de temer que já não saiba
O que será de ti em outro dia, outra hora
E repara que, ao teu redor
Há um mundo muito, muito maior
Do que aquilo que os olhos veem
Quando não sabem mais no que focar
Eu também tô aqui, rapaz, eu também tô aqui
Tô aqui perdida, tô aqui sem rota
Mas é que a Vida tem tantos anos, e tantos dias, e tantas horas;
Senta aqui e aprecia a vista, agora.

Final Feliz


Dispenso o rosa, o castelo e o príncipe encantado,
As roseiras no jardim e a piscina no quintal,
A fartura, a bonança e o sorriso costurado;

A boa sorte entregue numa bandeja de cristal.

Antes seja sujo, disforme, sem brilho e sem cor
Pra que o suor do nosso braço desembace o ensebado
E que os pequenos momentos de glória e amor
Sejam melhores e maiores, e mais valorizados.

Quem


Pessoa quem?

Quem não sei quem é
Só de olhar nos olhos, e nas mãos, e no sorriso;
Quem não diz, quem não mostra, quem não faz –
Que não faz parecer o que seja, em dia algum
Pessoa quem?
Quem não sei quem foi
Só de olhar pros rastros, pras palavras, pras marcas
Deixadas no corpo da Vida;
Que me deixa sem saber o que pensar.
Pessoa quem?
Quem não sei quem será
Só de ouvir a voz, e as risadas, e os lamentos;
Que não garante, não conta, não jura;
Que é uma incógnita que incomoda.
Pessoa quem?
Quem você. É?

medo de


medo de errar
medo de cansar
medo de dizer
medo de esquecer
medo de morrer
medo de viver
medo de contar
medo de fazer
medo de escolher
medo de fugir
medo de ficar
medo de começar
medo de terminar
medo de seguir
medo de voltar
medo de existir
medo de sumir
medo de querer
medo de odiar
medo de perder
medo de amar
É tanto medo que eu nem sei mais
O que o Medo quer dizer

Um Filho de Curió Curioso


“De onde vens, para onde vais?”
“Quem perguntou, quem quer saber?”
“Um filho de Curió Curioso pediu
“Que eu perguntasse a você”
“Quem és tu, quem querias ser?”
“Por que perguntou, por que quer saber?”
“Um filho de Curió Curioso queria
“Que eu indagasse você”
“O quê que tu queres, o que não queríeis mais?”
“Que queres de mim com perguntas tais?”
“Um filho de Curió Curioso pedia
“Que eu soubesse daquilo que você queria”
“Onde vives hoje, em que casa posso bater?”
“Quem és tu que desejas a mim uma visita fazer?”
“É um filho de Curió Curioso que
“Muito lhe quer conhecer”
“Mas de onde vens, pra onde vais?”
“Estou sozinho sem um porquê”
“O filho de Curió Curioso sente
“Muito nisso saber”
“Qual é o teu nome, qual é a tua história?”
“Não sei mais de mim que se ti sei saber”
“Do filho de Curió Curioso só passo
“A mensagem; dele, pra você”
“Que fazes sozinho, sem nada a fazer?”
“Diz quem tu és que lhe digo o porquê”
“Não sou o filho de curió curioso pra
“Que me explique a você”
“Quem és tu que não diz, não responde por que?”
“Diz primeiro que digo eu depois de você”
“Já falei que não eu, mas o filho
“De Curió Curioso quer saber”
“O que queres de si, que não tens de outrem?”
“Enfada falar-lhe sem saber o motivo também”
“O filho de Curió Curioso só
“Muito lhe quer conhecer”
“Vens pro almoço e ficas pro jantar?”
“Onde seria, de quem é o lar?”
“O filho de Curió Curioso e seu pai
“Lhe convidam à noite pousar”
“Vens e descansa, sem reclamar?”
“Por que querem que eu lhes vá visitar?”
“O filho de Curió Curioso queria
“Só lhe fazer descansar”
“Bem, de onde vens, para onde vais?”
“Eu venho do escuro e vou pro silêncio”
“Um filho de Curió Curioso diz
“Que lhe canta pra espantar o tormento”
“Vens e repousa num ninho de seda?”
“Assim, sem saber quem me chama pra ir?”
“Venha sem medo, vem sem demora,
“Que o filho de Curió Curioso já vai partir”
“Vens e depois, segue em viagem?”
“Não tenho dinheiro pra que saia tão tarde”
“O filho de Curió Curioso tem fundos
“E asas, e linho, e sonhos”
“Vamos depressa, que a Lua se esconde à Aurora ”
“Seria seguro seguir-te incógnita?”
“O filho de Curió Curioso diz
“Que venhas sem medo, agora”
“Vamos depressa, que os pássaros cantam sem demora”
“Já não sei quem sou, quem somos, quem és”
“O filho de Curió Curioso também
“Não sabe mais do que cabeça ou pés”
“Vamos depressa, que o Sol brilha em Zênite agora”
“Sem malas, sem roupas, respostas ou chapéu?”
“O filho de Curió Curioso promete
“Que nada lhe falte no céu”
“Vamos depressa, que o Sol já se vai novamente”
“Vamos com ele, vamos correndo!”
“O filho de Curió Curioso já chega
“Voando por cima do vento”
“Venha depressa, que Ele já chega voando por cá”
“Tenho medo que mate-me só de me olhar”
“O filho de Curió Curioso só vai
“Não volta, não mata”
“Vamos depressa, seguindo o caminho do ar”
“Não vejo-o refletido nas ondas do mar”
“Não vês que o filho de Curió Curioso
“Jamais vai chegar?”
“Olhe pra si e repare no bico, nas penas, na voz en-cantada,
“No jeito que pensa, no jeito que fala,
“Nas perguntas que fazes, nas questões que repara,
“Nas dúvidas que tens, sobre si, sobre nada”
“Tu és o filho de um Curió Curioso, e não sabes
“Quem tu és, quem tu querias saber
“E eu sou-te a ti mesmo também
“Que não sabe pra onde vais, de onde vem”
“Agora vem, vem depressa
“Que vamos saber quem seríeis
“Que vamos voar onde podíeis
“E onde não podíeis também”