Hoje

     O amanhecer de um novo dia já devia nos avisar o quão ruim ele seria.     
     Hoje foi um desses dias. Que deviam ter me avisado que não deveria ter saído da cama.
     
     Ontem também foi. Todos os dias têm sido. Todos os dias são Hoje.
     
     Hoje eu parti meu próprio coração.
     
     Não o fiz sozinha, claro. Ninguém é tão forte que possa partir o próprio coração – principalmente alguém como eu, cujas forças já se esgotam, cedo assim. Falta-me o ar. Desaprendi a respirar.
     
     Parti meu próprio coração hoje. Mas não só hoje. Há tempos ele tem sido cortado.
     
     A primeira apunhalada ocorreu quando perdi as palavras pela primeira vez. Não mais soube dizer o que sentia. Meu coração havia sido partido uma vez, não podia coloca-lo mais em jogo. Transformei-me em um grande buraco negro, cuja primeira fenda começava a se engolir. Lentamente. A fenda crescia mais rapidamente.
     
     Sem que percebesse o que vinha fazendo a mim, construí um muro ao redor do meu coração.
     
     Talvez meu inconsciente quisesse impedir danos colaterais. Não adiantou.
     
     Hoje eu parti meu próprio coração. Parti também o coração de outro.
     
     Mas não o parti assim, de uma vez só. Venho partindo-o há muito tempo, lentamente.
     
     A primeira apunhalada ocorreu quando perdi as palavras pela primeira vez, e não soube dizer-lhe o que sentia.
     
     Nunca mais soube. Tantas semanas sem que eu conseguisse dizer-lhe o que sinto.
     
     Tentei algumas vezes, várias semanas atrás. Não consegui.
     
     Brigamos.
     Tentei mais uma vez, hoje. Não consegui novamente.
     Brigamos.
     Partimos.
     Fugi de mim. Ele também fugiu. De si, e de mim.
     Nosso verão está acabando já.
     A verdade é que os dias sempre nos avisam quando devemos ficar na cama.
     Chovia. O Sol mal aparecia.
     Está frio aqui. Está frio aqui, dentro de mim.
     Porque, Hoje, meu Sol foi embora.
     
     Todos os dias são Hoje, agora.

Casa


     Não existe sentimento melhor que o de voltar pra casa. 
     
     Viajei por tantos dias que havia até me esquecido; o cheiro familiar, os sons que caracterizam, os objetos que nos fazem lembrar, em qualquer lugar, da nossa morada. Viajar, passear, conhecer, reconhecer, descobrir, e enfim redescobrir aquilo que nos foi primário. Casa, acima de tudo, é sentimento. Sensação.
     
     Tenho várias casas. Aquela dos meus pais, e a da minha avó. Algumas casas são visíveis, tocáveis; outras são como um abraço – tão material e imaterial simultaneamente. Um de meus tipos favoritos de casa são pessoas. Pessoas que nos dão a sensação de que o mundo é, magicamente, bom e justo. Mesmo que por um instante. Algumas casas são especiais por terem aquele cheiro emocional de café. Trazem um aconchego e uma nostalgia que confortam, como um cobertor felpudo em noite de frio.
     
     Tenho uma Casa que cheira a orvalho de uma manhã que chega após noite chuvosa. Acho que isso se deve ao fato de minhas estadias temporárias ali sempre terem sido muito atribuladas, cheias de tempestades. Hoje, tudo isso já passou. Já retorno bem menos àquela Casa – justamente agora, que há paz. Mas talvez seja melhor assim.
     
     É bom saber que existe alguém que faz lembrar confusão, mas traz calmaria. Que pode ser tão ou mais negativa quando se está pra baixo – e esse mesmo negativismo pode fazer tão melhor. Casa boa é assim. A melhor Casa é aquela que nos deixa melhor pra voltar a explorar o mundo, e descobrir nossa vida.
     
     Se seu coração fosse uma casa à parte, seria um casarão – maior que já vi. Grande e fortificado – difícil de acessar, difícil de entrar, de ser abraçado pelas suas paredes. Nada de muito estranho. É preciso um cofre que proteja os tesouros que se guardam ali. Acho que amo tanto essa Casa porque ela sempre vem comigo. Há muito tempo. Mesmo em silêncio, mesmo que eu não perceba. A memória de que, em algum momento, irei voltar, me conforta.
     
     Não há porquê em viajar, se não puder voltar pra Casa.
[Feliz Aniversário, Camila ♥]


Ao infinito, e além!

     Ora, ora, vejam se não é a garota de um pequeno blog em uma tímida tentativa de expandir seus escritos.

     Impressão absolutamente correta.

Até emblema temos agora!

  
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Primeiro de Janeiro


     Existe uma sensação generalizada de depressão/animação – que chamarei de “Síndrome do Primeiro de Janeiro” –, carregada de falsos moralismos e vontades impossíveis, que costuma aparecer justamente no tal dia que a nomeia. Após uma noite consideravelmente divertida, alguma (ou muita) bagunça, e fogos de artifício, retornamos pra casa ao amanhecer, na esperança de dormir e magicamente acordar com uma vida totalmente nova.
     
     Meus Primeiros de Janeiro costumam ser psicologicamente deprimentes. Contra minha própria vontade (posso provar isso), começa a lotar minha mente de pensamentos aleatórios. Talvez fosse uma forma de evitar que considerasse demais sobre os erros que cometi. Nunca adiantou. Aumenta minha consciência de que o tempo está realmente passando. Já não sou mais criança. Estou morrendo.
     
     Em seis dias estou de volta à universidade. Passarei cinco desses dias cuidando de trabalhos. Além disso, ganhei peso nos últimos meses. E sinto que minha avó materna pode não passar desse ano. Farei 18 – e isso me deixa igualmente ansiosa e preocupada. A vida real, que desde 2011 vem me dando alguns tapas na cara, deixa bem claro que, a partir de agora, começará a me dar pontapés. 
     
     Apaixonada por números como sou, sempre fico deprimida ao saber que a contagem dos meses jamais ultrapassará o doze. Desse ponto de vista, sinto que, a cada novo ano, voltamos à estaca um. Uma progressão infinita. Assusta, um pouco. Sempre me assustou. Tenho medo de coisas sem fim. Daí começo a questionar os motivos de eu, finita, continuar vivendo nesta linha de tempo sem fim. Se, num minuto, me sinto no lugar certo, no seguinte já sinto que está tudo errado nessa vida. Coisa de adolescente mesmo. 
     
     Já chegou o momento em que nada mais faz sentido. Esqueci-me do dia da semana em que estou. Principalmente nesse calor. É aquele limbo do quase sono. Tiro minha primeira soneca do ano. Tenho odiado dormir ultimamente. Acordo como houvesse passado toda uma noite lutando. Lutando contra o quê? Não tenho inimigos. Só minha própria consciência. Inimiga o suficiente.
     
     Li tantos livros essa semana, quero mais. Pra ver se descanso minha mente de tantos pensamentos confusos. Tenho pensado muito sobre coisas que jamais ocorrerão, nesse e em qualquer outro ano. Pensava que, a essa altura, já estaria melhor. Seria melhor. Mas isso me faz pensar no passado. Não quero. Porém, ainda me sinto patética. Engraçado, achei que já estaria dormindo. Não estava no limbo? Acho que o próprio calor me acordou.
     
     Ano Novo, e não choveu. Ainda estou pensando no que isso pode significar.
     
     Aqui vamos nós de novo. Página 1 de 365. Lembro-me de 2012 como se fosse ontem. Não janto desde o ano passado. Não vejo meus amigos desde o ano passado. 2013, surpreenda-me. Feliz Ano Novo. Feliz Hoje. Feliz. Feliz.
     
     I’m just skin and bones.