o som que a estrela faz

Photo by Teddy Kelley on Unsplash.

      Eu comecei a escrever pra ser dona de histórias. Eu gostava de ler histórias, gostava de ouvir histórias, mas queria ser dona delas também. Comecei com histórias de princesas, nas quais a princesa se parecia comigo, porque eu queria um final feliz pra mim. Pouco tempo depois, viramos super-heroínas, e havia muito cor-de-rosa. Então, eu descobri um universo completamente novo, e escrevi dúzias de contos sobre marionetes, gatos pretos, e meninas que eram atropeladas durante surtos esquizofrênicos. Logo depois, eu descobri a poesia.

      A poesia tirou o foco daquilo que eu projetava em personagens, e jogou sobre mim. Foi a primeira vez em que eu vi como meus contos se pareciam muito com os desabafos que eu escrevia noite e dia em dezenas de caderninhos e diários. Eu me virei do avesso em dezenas de versos, até que me embaralhei toda em mim mesma, entre amores, desamores, e algumas dores. Escrevi sobre tantas coisas e pessoas que precisei dar um tempo, pra tentar me recuperar. Não voltei pra poesia, ainda.

      Não sei bem porque eu escrevo, hoje em dia. Pra compartilhar, representar, apresentar? Eu gosto de fazer bem aos outros com o que eu escrevo, e eu acredito que eu possa curar, transformar, revirar o mundo, com palavras. Mas existe um sentimento específico, que floresce quando eu estou diante de uma folha em branco, que eu não consigo superar.

      Uma vez, eu li que escrever era uma forma aceitável de se desnudar em público, e, exatamente como a pessoa que se desnuda, quando eu escrevo, quero chamar atenção pra alguma coisa. Sem pudor, assim como uma pessoa que se desnuda, eu tento chamar atenção pras coisas que ficam encobertas – em mim, e nos outros também, mas principalmente em mim. Talvez porque eu seja chata demais, na maior parte do tempo, mas, quando eu escrevo, às vezes fico até emocionada com as coisas bonitas que consigo fazer aparecer. Algumas são menos bonitas, mas são muito mais profundas que eu achava que eu era, e é sempre uma surpresa nova, uma face nova da Graça que é revelada, e me deixa um tanto feliz por existir e ser exatamente quem eu sou.

      Então, toda vez que eu escrevo algo, e compartilho com o mundo – mesmo aquilo que vem com lágrimas e um gosto amargo na boca – , é como se eu entregasse as pedrinhas preciosas que encontrei dentro de mim, coisas de valor, que eu não quis deixar guardadas. Coisas que me deixaram feliz. Mesmo que às vezes algo que me pareça um diamante te pareça um caco de vidro, ou um pedacinho quebrado de espelho. Acho que, se você puder ver seu reflexo neles, eu já vou ficar muito feliz. Nós somos todos como bordados complicados demais, mas que parecem muito simples quando são vistos do outro lado. Depende mesmo do seu ponto de vista.

      Abri uma página em branco hoje porque queria escrever sobre essa frase que vinha martelando há alguns dias – “Qual é o som que a estrela faz?”. Sinto muito pela decepção, mas eu ainda não faço ideia. Quando eu souber o que dizer sobre isso, escrevo uma continuação, mas pode demorar um pouco – em 23 anos de vida, eu infelizmente ainda não encontrei nenhuma estrela dentro de mim.

     [06/06/2019 – hey, eu descobri qual o som que a estrela faz.]

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