Que tipo de artista é um idol?
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Meu primeiro contato com idols de K-pop foi em 2009, aos 14 anos de idade, quando eu aprendi que uma das minhas músicas favoritas de uma das minhas bandas alemãs favoritas – “Forever or Never”, de Cinema Bizarre – também havia sido gravada por um grupo coreano chamado SHINee. No ano seguinte, a maioria das minhas colegas que também eram fãs de bandas alemãs haviam trocado Cinema Bizarre, Tokio Hotel e Killerpilze por Super Junior, BIGBANG, SHINee, entre outros. A maioria de nós já tinha um histórico com J-pop e J-rck; eu mesma me interessei rapidamente por Super Junior, por conta do quanto o Heechul me lembrava meu guitarrista de visual kei favorito, Miyavi. Mas esse interesse não durou muito; como uma jovem cristã, eu não conseguia lidar naturalmente com o termo “idol”.
Coincidentemente, foi a música “IDOL” do BTS, lançada em 2018, que acabou me arrastando de vez para a indústria, me atraindo com uma sobreposição de percussão tradicional Coreana e Afrobeat que deixavam minhas manhãs de recém-formada (e recém-desempregada) menos insuportáveis. Isso foi há cerca de dois anos e meio. Minha mente adulta, mais educada e esclarecida, foi capaz de se importar menos com as conotações negativas que o termo “idol” me comunicava no passado – ainda que de vez em quando eu ainda tenha que me explicar um pouquinho quando sou questionada dentro dos meus círculos religiosos. Chamar jovens popstars de um nome desses é uma forma bem pouco sutil de deixar claro para qual propósito eles foram criados, mas, mesmo assim, há mais por trás disso que uma escolha de palavras.
Isso é algo que eu digo com frequência – eu sempre fui fã de alguma coisa, desde pelo menos minha pré-adolescência. Ser fã é parte da minha identidade, e parte de como eu interajo com o mundo. Isso é relevante porque, depois que me tornei fã de K-pop, o processo de aprender mais sobre o que o rótulo “idol” significava e o quanto era importante na formação de algumas das coisas que eu mais gostava nesses artistas deu uma forma nova à como eu percebia minha própria vivência como fã. Este texto é uma peça bastante pessoal, e uma primeira tentativa, bastante subjetiva, de colocar em palavras como minha noção de gosto mudou ao longo dos últimos anos, bem como de prestar uma pequena homenagem à um dos idols que eu mais estimo – Hoshi, do grupo Seventeen – , não apenas porque hoje, 16 de Junho, é aniversário dele, mas também porque gostar dele tanto quanto gosto hoje em dia tem muito a ver com meu processo de descobrir o que idols eram de verdade.
Eu vim para o K-pop direto de uma carreira longa em diversos tipos diferentes de rock, de power pop a pop punk, punk e stoner rock, e todo tipo de sonoridade rotulada “alternativa”. Minhas primeiras percepções como fã eram naturalmente altamente definidas por essa experiência que eu já possuía, mas, ao mesmo tempo, porque havia uma transição bastante evidente em jogo, eu precisei admitir para mim mesma que deveria haver algo específico, potencialmente novo, me atraindo para esse tipo de artista muito diferente (ainda que houvesse alguns paralelos importantes, tantos que até foi escrito um artigo analisando o porquê de tantos antigos fãs de emo e pop punk foram para no K-pop). Eu tinha em mim um sentimento de querer muito ser capaz de apreciar as diferenças tanto quanto as semelhanças. Como eu mencionei antes, eu havia acabado de me formar, então minha cabeça ainda estava cheia do processo de estudar para & escrever meu TCC, e eu tinha tempo suficiente para fazer minha coisa favorita: continuar estudado (btw, esta é a versão resumida de como eu acabei estudando fandoms). Eu tive a sorte de fazer amigos que me apontaram na direção certa, me mostrando as músicas, vídeos, performances ao vivo, artigos e livros que me ajudaram a estabelecer uma boa base pra começar a visualizar o cenário de idols na Ásia de forma mais ampla, colocando em contexto o produto final que eu gostava tanto de consumir.
Bem no começo de 2020, em uma conversa com uma das amizades mais experientes que eu arranjei, eu ouvi que todo fã em algum momento poderia ser confrontado com a situação de não ter mais tempo (ou energia) para continuar apoiando a carreira de tanta gente ao mesmo tempo, então deveria haver 1 idol com o qual nós estamos dispostas a seguir, deixando os outros para trás. Eu me lembro de dizer que não sabia dizer quem eu escolheria; mas então, não muito tempo depois, um pouco depois do 24º aniversário do Hoshi, eu percebi que ele havia se tornado minha resposta àquele questionamento. Quando eu comecei a gostar de Seventeen, ele não foi um dos primeiros membros a chamar minha atenção, mas, quanto mais eu aprendia sobre o grupo, mais ele me intrigava. A princípio, eu acreditava que havia algo de incomum por trás desse interesse, porque todos os meus idols favoritos até aquele momento tinham algumas características em comum que não eram as coisas mais marcantes sobre ele. Essa percepção me fez pensar bastante sobre o que havia gerado esse interesse. Eu acabei concluindo que minha nova simpatia era o resultado de um processo maior de transição pelo qual eu estava passando, que era resultado dos pensamentos e ideias que eu havia assimilado depois de ter buscado educar minha mente para perceber idols como idols.

QUAIS OS MOLDES DE UM IDOL?
Ser um idol é, em si, uma performance. Idols são um gênero especial de artista pop, cujas personas são especialmente desenvolvidas para maximizar a chance do estrelato. Tal performance é, de fato, um trabalho artístico – um fato que pode ser facilmente ignorado de acordo com a definição de “arte” do observador. Como é uma performance em tempo integral, o papel dos jovens que dão duro para trazer à tona uma imagem de si que seja digna do título é com frequência ofuscado pelo papel dos agentes e produtores no processo. Trainees em empresas de K-pop gastam toda sua juventude treinando em busca do sonho de receber a chance de debutar em um grupo[1], e depois gastam os anos subsequentes trabalhando para construir relevância e estabilidade, no grupo, e individualmente. A partir do momento em que um novo trainee é aceito em uma agência, e sua jornada começa, o objetivo final é o palco; é o lugar em que todos os elementos do processo se juntam, e eles apresentam a excelência que desenvolveram em música e dança, para mostrar que são dignos do nome, e do apoio de seus fãs. Mas a soberania do palco é apenas um dos aspectos dessa performance.
Idols foram projetados para que se tornassem uma fonte de segurança, além de um objeto de desejo, através dos quais os fãs pudessem viver a fantasia de realizar sonhos, em forma de apoio incondicional. Para alcançar essa fantasia, tornar-se fã de idols é uma experiência como a de adentrar uma realidade alternativa transmidiática, um domínio no qual todas as partes da narrativa eventualmente referenciam e apontam umas para as outras[2], criando a ilusão de um mundo de intimidade entre um idol e seus fãs. Neste mundo, uma estética utópica de juventude coletiva é efetivada; para muito além de desejar seus corpos e seus estilos de vida, fãs são encorajados a se perceber como sendo parte da jornada. Da mesma forma que idols crescem desde seus dias como trainees até que se tornem artistas maduros, todos os seus fãs também irão, em suas próprias existências, crescer, e trabalhar duro em busca das próprias aspirações e sonhos.
Esses processos de crescimento do artista e de seus fãs são percebidos como sendo um só, de acordo com a arquitetura dessa relação parasocial; nesse sentido, a experiência de ser fã de um idol é o trabalho de uma vida[3] – conforme empresas e idols trabalham juntos para trazer as imagens e textos através dos quais o apoio dos fãs será captado, fãs entram na equação não apenas como apoiadores, mas com sua própria performance de fandom. Essa performance é expressa através de práticas diárias, como comprar produtos, votar para premiações, escutar músicas e assistir vídeos, organizar eventos, produzir fanart, apoiar marcas patrocinadoras. Mas, da mesma forma que o palco é o momento em que o idol se apresenta em toda sua majestade, fãs também tem um papel próprio no show, sacudindo seus lightsticks (bastões de luz), cantando coros especiais que acompanham cada música, e apresentando as performances coordenadas com slogans que carregam frases especiais para os artistas.[4] Todo esse sistema de idols é construído sobre esse pacto de vínculo entre idols e fãs; e, nisso, como aponta Joanna Elfving-Hwang (2018), qualquer seja o papel que as partes constituintes devem exercer, a base desse pacto é nunca sair do personagem[5].
Se ser um idol é um processo de produzir uma expressão de si que seja digna do título, o talento mais desejável à um jovem aspirante seria a habilidade de articular uma performance cativante e consistente dentro e fora do palco. Nesse sentido, quando elaborando suas personas, a genialidade de exercer esse papel é saber como usar o que se tem em si para construir uma ponte entre quem eles já são, e quem eles devem ser. Já que todo idol que consegue debutar teve que passar ao menos pelo mesmo processo duro de preparação antes de ter a chance de se apresentar num palco, a carreira duradoura que eles tanto desejam depende muito da sua habilidade de fazer com que outras pessoas se apaixonem pelos sonhos deles, e queiram sonhar junto com eles. É por isso que uma história pessoal impactante é tão importante para dar credibilidade à uma personalidade atraente, como uma bússola que indica a direção da narrativa e dá à performance tons mais realistas, e cronologicamente sustentáveis.
HOSHI, O IDOL
Hoshi, meu idol favorito, é uma força da natureza. Seu nome artístico é uma combinação das palavras “horangi” [호랑이, tigre] and “siseon” [시선, olhar]. Sua persona divertida e falante faz uso abundante de uma estética de fofura barulhenta para mostrar um lado cativante, que é um grande contraponto à postura de tigre feroz que ele assume no palco. Nascido em 1996 como Kwon Soonyoung, ele debutou oficialmente em Maio de 2015, como o dançarino principal entre os 13 garotos do Seventeen, depois de treinar por quatro anos. Por conta do grande número de membros, o grupo é dividido internamente em times de acordo com especialização; existe o Vocal Team, o Hip Hop Team, e o Performance Team, do qual o Hoshi é líder. Ele é reconhecido como um artista apaixonado, um coreógrafo talentoso, e o metrônomo do grupo, obcecado tanto com a sala de ensaios quanto é obcecado pelo palco. Seu amor por trabalhar duro e enfrentar os processos é uma de suas maiores vantagens – sua paixão dá conta de cada um dos degraus da escada que leva do compromisso com a preparação até o lugar sob os holofotes.
Pensando em retrocesso, eu acredito que a habilidade que ele tem de tremer de tanta paixão por tudo que faz, em tudo que faz, tenha me feito começar a gostar tanto de assisti-lo. Conforme eu avançava na minha jornada extensa pelo conteúdo do Seventeen em diversas mídias, ele me contava uma história bem consistente de um artista que trabalhava muito duro, que havia desafiado todas probabilidades para se construir do zero. Quando ele era apenas um garoto com um sonho de se tornar um artista, e um histórico sólido em taekwondo, ele percebeu que suas habilidades físicas eram o suficiente para que ele tivesse uma chance. Seus pais não apoiaram seu sonho, mas ele já tinha em si fome e sede que o levaram a tentar provar que era capaz. Ele começou praticando sozinho, em casa, e foi criando as próprias oportunidades, fundando o próprio clube de dança na escola, e entrando em diversas competições, e saindo de campeão de algumas. Em uma dessas, ele alcançou o desejo de ser recrutado por uma agência. Decidido a não deixar passar a chance que havia recebido, ele construiu para si desde o dia 1 a reputação de ser o trainee que dava mais duro e se entregava mais que todos; essa reputação o tem seguido desde então, e continua sendo reafirmada toda vez que ele dá um passo adiante para se apresentar de novo.

Quando ele dança, ele é intocável e intrigante; diante das câmeras, é uma figura confortante e confiável, com uma aura acessível que faz com que seus fãs o considerem quase como parte da própria família. Esses lados diferentes dão forma à complexidade do seu “tiger power”, a marca que resume e iconifica o gênio da sua performance de ídolo. Kwon Soonyoung, o jovem, diz que é um introvertido, mas, como artista, dá preferência ao barulhento e cheio de energia e quase insano como um impulsionador, e parece decidido a transformar qualquer pedaço de chão num palco, independente de qual seja o papel que ele deve cumprir. Eu até diria que essas diferenças entre sua performance e aquilo que ele às vezes descreve como seu “verdadeiro eu” tornam o show mais interessante. Ele pode sempre contar com o suporte da credibilidade da sua trajetória, que torna o pacote completo sendo apresentado mais crível, e mais agradável de ver – quase como se nós pudéssemos ver a estrada inteira pela qual ele caminhou toda vez que os holofotes se projetam sobre ele. Há um senso geral de coerência que ele consegue comunicar através de diferentes formas de mídia que é difícil de descrever mas, em última análise, se traduz para mim como um senso de comprometimento e segurança de que ele está tão fascinado pelos próprios sonhos quanto seus fãs estão fascinados por ele.
Essa habilidade de se comunicar de forma coerente ao longo dos anos talvez seja uma das razões pelas quais é tão fácil se apaixonar por ele por seus sonhos, a ponto de desejar muito vê-lo alcançar todos. Isso foi muito evidente durante “Spider”, seu excepcional debut como artista solo, lançada em Abril. O lançamento é um excelente display de tudo que ele construiu desde que decidiu que queria estar em um palco; a canção sutilmente voluptuosa foi escrita e produzida pelo seu amigo de longa data e companheiro de banda, Woozi, e permitiu que ele se mostrasse como um artista completo além do Seventeen, destacando seus movimentos pungentes, sua voz encantadora, e seus ângulos e formas belos e viciantes. A canção é fácil de ouvir e implora pelo replay, e tanto o clipe oficial quanto as múltiplas performances, incluindo o dance practice, são um banquete visual, conforme ele se movimenta entre os bailarinos e bailarinas e os caixilhos que constituem a performance. Seus altíssimos padrões de qualidade estão presentes em cada aspecto, desde a concepção, como ele mesmo descreve nas entrevistas e no registro do processo lançado no canal do Seventeen. Não é muito diferente do Hoshi, membro do grupo e líder do Performance team, mas é um pouco maior, e vai além, como a sensação de que você tem que andar mais alguns passos para ter uma visão melhor do todo.
A TRANSIÇÃO
Gosto é um assunto difícil de navegar, porque existem múltiplas camadas coletivas e individuais, externas e internas, por trás do que nos enviesa e nos vincula às coisas; existem diversos aspectos da subjetividades que são inexprimíveis, mas que são como peneiras e filtros que definem com nós digerimos tudo aquilo que ingerimos. Mais difícil ainda quando consideramos nos diversos tipos de discursos de fã que existem, não apenas por causa das qualidades emocionais que fazem parte, mas também o aspecto comunitário que caracteriza a percepção geral de ser fã como ser parte de uma ideia de um arranjo extenso de pessoas que compartilham o mesmo gosto, o mesmo viés, o mesmo vínculo. É discutível até que ponto o gosto de um fã deve ser analisado, principalmente porque, conforme o tempo passa, se torna cada vez mais difícil diferenciar a identidade e a reação pessoal do indivíduo das construções coletivas de discurso com as quais o fã pode entrar em contato. Por isso, desde o começo, eu deixei claro que este era um relato pessoal, porque, no fim das contas, aquilo que me enverga diz respeito à mim.
Mesmo assim, mesmo que o processo de me tornar uma grande fã do Hoshi tenha sido um processo individual, pessoal e subjetivo, existe um processo mais amplo em questão – que é a coisa que eu estou chamando de uma transição ocasionada pela minha experiência de adquirir conhecimento – que foi o processo de me tornar mais fã de um dançarino que de outros. Isso pode soar estupidamente simples, e provavelmente indigno de um texto tão longo assim, mas a verdade é que na verdade é bem duro desconstruir percepções de uma vida toda sobre o valor das muitas mídias através das quais a expressão pessoal se articula. Na faculdade de Arquitetura, minha melhor vantagem era a capacidade de traduzir imagens e espacialidades em palavras, e vice-versa. Mesmo como professora de Inglês, minhas habilidades devem muito ao meu talento de pensar demais sobre como usamos a língua para expressão. A coisa que eu sempre mais admirei foi a capacidade de usar bem as palavras – o tipo de percepção que eu cultivei enquanto crescia sendo fã de coisas, e que carreguei comigo quando virei fã de idols.
A princípio, todos os meus idols favoritos eram os compositores, aqueles que carregavam em si uma poética que era articulada verbalmente, alguns que até haviam lançado livros. Mesmo que eu fosse tão fissurada pelo pacote completo do show, no frigir dos ovos, eu ainda atribuía mais valor subconscientemente àqueles que conseguiam se expressar com palavras. O processo de me aprofundar nos conteúdos não-verbais do K-pop, e entender como cada aspecto adicionava valor ao produto final, me fez mais capaz de apreciar as várias camadas do espetáculo como sendo igualmente importantes; a essência daquilo que eu chamei de perceber idols como idols seria um consenso geral de disposição a ver cada um pelo papel que desempenha em pé de igualdade – desde aqueles que escrevem canções e cantam a maior parte delas àqueles que deixam o grupo mais bonito mas não necessariamente tomam a frente de performances. Uma das razões pelas quais idol groups tem uma diversidade de visuais, personalidades, talentos e tipos é justamente para maximizar o seu apelo; quanto mais amplo o espectro de apelo, maiores as chances de que alguma história toque o coração de alguma pessoa que está assistindo – porque, no fim das contas, o que está sendo comunicado ainda depende em grande medida da habilidade da outra parte de entender.
Uma vez que eu havia me colocado à disposição para celebrar as várias facetas de como idols se articulavam, eu pude colocar minha admiração de longa-data pela habilidade de construir uma narrativa artística coerente à serviço de apreciar a performance de idols de forma mais inteira, o que eventualmente se desenvolveu na direção do Hoshi, o idol e artista. Tornar-me sua fã foi como descobrir o quanto eu desejava encontrar novos pontos de contato no tecido da realidade em que a sensibilidade do meu corpo e da minha alma pudessem se encontrar com as ordens superiores do cosmos – a janela de possibilidade que nos leva ao numinoso, se tivermos sorte. É tão simples quanto uma profunda ânsia por beleza. Existem incontáveis camadas coletivas e individuais, externas e internas, por trás do que nos enviesa e nos vincula às coisas, conforme nós abrimos caminho pela mata virgem que é viver e existir no mundo, e as únicas constantes são de que o tempo vai continuar passando, e que vamos continuar mudando ao longo do caminho. É aí que a performance de um idol em cima de um palco te leva de volta à estrada que ele trilhou para chegar até ali, a interseção entre se apaixonar por assistir, se apaixonar por sonhar, e transformar essa paixão em uma prática. É daí que nasce um fã.
Mesmo assim, a despeito das minhas palavras emocionadas, em última análise, a relação artista-fãs não deixa de ser uma transação financeira. A razão pela estrutura emocional complexa que sustenta o pacto de vínculo entre idols e seus fãs é a necessidade de uma estrutura resistente de apoio que viabilize o emprego de todas as partes envolvidas na montagem do show. E o que fãs tiram disso? São muitas as razões pelas quais nós damos espaço para que nossos sentimentos e percepções virem uma moeda nessa troca do que oferecemos aos artistas dos quais gostamos e que decidimos apoiar. Talvez eu também anseie pelo sentimento de seguir vida juntos à distância, como linhas paralelas nesse mundo imenso, caminhando em direção ao lugar para onde vão as almas. Eu tenho certeza que isso soa emotivo e otimista demais, mas talvez seja só minha mente pândemica, cansada demais, necessitando de distração com mais frequência que o normal, e falando mais alto que meu bom senso, mas eu já li que a beleza do mundo é realmente como a boca de um labirinto. O fato é que eu amo escrever sobre minhas coisas favoritas, porque elas sempre me ajudam a pensar sobre mim mesma. E eu amo escrever sobre o Hoshi também, mas eu gosto de assisti-lo ainda mais. Como café forte e amargo, toda vez que ele aparece, deixa pra trás um sabor que perdura na ponta da língua, que me dá energia extra pelas manhãs, ou me mantém acordada à noite quando é necessário. E esta é minha opinião orgulhosamente, totalmente, completamente, apaixonadamente tendenciosa sobre o que faz dele um grande idol.

A dona aranha subiu pela parede
Veio a chuva forte e a derrubou
Já passou a chuva o sol já vai surgindo
E a dona aranha continua a subir
Ela é teimosa e desobediente
Sobe, sobe, sobe e nunca está contente
OUTRAS LEITURAS (em Inglês)
Filmi Girl. “Why an Idol Group isn’t a Boy Band.” The Idol Cast and Other Writings. Mar 4, 2021.
Musikosmos. “In the Spider’s Web.” Musikal Kosmos. Mar 29, 2021.
Sara Delgado. “SEVENTEEN’s HOSHI Talks First Solo Mixtape “Spider”.” TEEN VOGUE. Apr 2, 2021.
[INSIDE SEVENTEEN] HOSHI Mixtape ‘Spider’ Behind. SEVENTEEN Official Youtube Channel. 14:07. Apr 12, 2021.
NOTAS DE RODAPÉ:
[1] Muitos idols que começam a treinar muito jovens e/ou debutam na adolescência podem interromper os estudos devido às demandas do treinar/se apresentar. (Saeji et al. 2018: 12)
[2] Em “Idols: The Image of Desire in Japanese Consumer Capitalism”, Galbraith (2012: 186) descreve isso usando o termo “intertextualidade inescapável” [tradução livre]:
“Constantly present and exposed, the idol becomes “real,” the basis of feelings of intimacy among viewers, though this is independent of “reality.” John Fiske (1987, 116) describes the situation as “inescapable intertextuality,” where all texts refer to one another and not to any external reality. This is not to say that reality does not exist, but rather that what is accessible in cultural products is a construction of reality, which must be understood on its own terms. “Images are made and read in relation to other images and the real is read as an image” (Ibid., 117). The meanings of images, however temporary, are made (or negotiated) in interaction with images.”
[3] Para mais a respeito disso, eu recomendo especificamente “Always Fans of Something: Fandom and Concealment of Taste in the Daily Lives of Young Koreans” de Lee Eungchel (2021). Agradeço muito à Profa. Dra. CedarBough T. Saeji que compartilhou um link para este artigo, que me inspirou a escrever este texto.
[4] Sobre práticas de fãs, existe um espaço especial no meu coração para a densíssima auto etnografia “K- Popping: Korean Women, K-Pop, and Fandom” (Kim, 2016)
[5] Demonstrar consistência entre diversos meios de comunicação com fãs, com a mídia e outros espectadores é um aspecto chave na formação do vínculo duradouro com fãs, assim como a apresentação de uma imagem confiável e digna como celebridade perante a sociedade. (Elfving-Hwang 2018)
REFERÊNCIAS
Elfving-Hwang, Joanna. (2018) “K-Pop Idols, Artificial Beauty and Affective Fan Relationships in South Korea.” In Routledge Handbook of Celebrity Studies, edited by Anthony Elliott: 190-201. New York: Routledge. Retrieved from: https://www.academia.edu/36343905/K_pop_Idols_Artificial_Beauty_and_Affective_Fan_Relationships_in_South_Korea
Galbraith, Patrick W. (2016) “The Labor of Love: On the Convergence of Fan and Corporate Interests in Contemporary Idol Culture in Japan”. In Media Convergence in Japan, edited by Patrick W. Galbraith and Jason G. Karlin: 232-64. Tokyo: Kinema Club. Retrieved from: https://www.academia.edu/25849863/The_Labor_of_Love_On_the_Convergence_of_Fan_and_Corporate_Interests_in_Contemporary_Idol_Culture_in_Japan
Kim, J. (2017). K- Popping: Korean Women, K-Pop, and Fandom. UC Riverside. Retrieved from https://escholarship.org/uc/item/5pj4n52q
Lee, Eungchel (2021). “Always Fans of Something: Fandom and Concealment of Taste in the Daily Lives of Young Koreans.” In Korean Anthropology Review 5: 53-78. Retrieved from: https://s-space.snu.ac.kr/handle/10371/174377
Saeji et al. (2018) “Regulating the Idol: The Life and Death of a South Korean Popular Music Star.” In Asia Pacific Journal: Japan Focus 16 (13:3): 1-32. Retrieved from: https://apjjf.org/2018/13/Saeji.html
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