Uma vez, uma amiga escreveu que encontrou os olhos de Jesus no espelho. Eu sempre fui uma pessoa sensível e poética, mas eu achava aquilo misterioso demais. Eu era acostumada a encontrar Jesus na Palavra, nas canções, nas obras de arte, no pôr-do-Sol. Mas no espelho? Em mim mesma? Impossível. Eu pensava na época que ela era algum tipo de pessoa especial em quem Jesus habitava plenamente a ponto de vazar pelo olhos, mas isso porque eu ainda não entendia muito bem quem eu era. Eu descobri com o tempo que eu me tratava como uma máquina, e me descrevia como uma máquina, e tentava ser como uma máquina. E máquinas não têm alma, muito menos Espírito.
Sentar-se na frente do espelho é um exercício lamentável, se você é mulher. Você quer enxergar algo de bom em si, procura seus ângulos mais bonitos, joga um sorriso pro alto, infla o peito, murcha a barriga, empina a bunda, e depois se desmancha, desanimada. Conta todas as pintinhas e manchinhas do rosto, imagina um novo corte de cabelo, ou quais roupas te fariam parecer mais bonita que você é. Às vezes você chora, o que só piora o quadro – além de enxergar tudo que te desanima sobre seu rosto e corpo, você se lembra de tudo que te desanima sobre seu coração.
Eu sempre lamentei todas as partes que faltavam em mim, porque elas estragavam meu amor por mim, e, enfim, quem amaria alguém com tantas partes faltando? Eu queria ser inteira, ter um coração curado de todas as vezes em que foi quebrado, uma consciência limpa de todas as vezes em que quebrou os outros, um humor leve, um raciocínio menos entulhado de tanta ladainha, uma imaginação despoluída das coisas decadentes que eu colecionei pela vida. Inteira, completa. Perfeita.
Um dia, lendo Isaías 53, eu dei de cara com uma lembrança da humanidade de Jesus. “Desprezado e rejeitado pelos homens, um homem de tristeza e familiarizado com o sofrimento (…) Certamente Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças”. Jesus não só era humano, era homem, mas tomou sobre Ele as mazelas, as nossas mazelas. Pediu pra que nós lançássemos sobre Ele nossas ansiedades. Disse que nos aliviaria. Olhei no espelho de novo.
Eu via a mesma pessoa. Os mesmos buracos. As mesmas olheiras escuras, as bochechas cheias, a postura encurvada, a mandíbula torta. As mesmas partes faltando. Eu não podia fazer muito sobre elas, mas, em cada pedaço que eu não tinha, eu sabia que Ele estava lá, preenchendo os vazios. Ele É tão grande que cabia até no buraco negro que eu guardava no peito. Como uma tampa, que segura o fluxo de um ralo muito violento, que estava me engolindo. E, no vazio dos meus olhos, Ele era o brilho discreto, no canto, que, ao fim dos dias mais difíceis, me lembrava que ainda havia esperança.
Eu achava que minhas imperfeições eram uma maldição, porque elas nunca seriam totalmente resolvidas. Eu poderia me esforçar pra sempre, mas nunca conseguiria vencer a humanidade, minha carne, meus ossos, meu sangue, e essa pele cheia de cicatrizes. Mas existe algo nas minhas manchas que me lembra que eu preciso, eu careço de algo maior, que carregue o fardo que eu não aguento, que alimente a esperança dos dias vindouros, que me salve de mim mesma quando eu não me suporto. Alguém infalível, que eu possa admirar sem restrições, alguém digno da minha adoração, do meu louvor. Alguém que já estava dentro de mim, mas eu mesma não entendia. Que bom te ter aqui, Jesus. Fica pra sempre. A casa é Sua.
>> I’m learning how to love myself.
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Oi Luisa, encontrei seu blog e estou “maratonando” os seus textos. Acredito que existem estações na vida que nos “perdemos” tentando encontrar respostas para algumas coisas, ou nos perdemos pois não sabemos direito como passar por transições e mudanças. O fato é que me encontro bem nesse período, nesse limbo de tentar entender as mudanças e não perder de vista tudo aquilo que o Senhor fez crescer dentro de mim. Ler seu texto me trouxe à memória minha humanidade e limitação mas também me fez lembrar da força e incorruptibilidade de Deus, em em eu posso descansar. Ele me suporta, quando eu mesma sou incapaz de fazer isso. Obrigada por abrir seu coração aqui. (sei que esse texto é de 2018, talvez você já tenha até mudado de pensamento), mas que bom que pude encontrar e ler tudo isso. Que o Senhor continue te encontrando e dando sentido para os seus dias. Abraços! 🙂
Oi, Bianca! Obrigada pelo seu comentário! Eu mesma preciso voltar e reler meus próprios textos com frequência para não me esquecer das coisas que o Senhor já plantou e fez florescer em mim. Também estou passando por uma fase de transição! Lidar com a incerteza da vida é nosso maior desafio como seres humanos. Esses dias, tenho pensado naquele hino “A Mensagem da Cruz,” para me lembrar que o objetivo de tudo não é ter sucesso pessoal, ou viver tranquila, mas conhecer o Senhor mais de perto. Tem dias em que isso é lindo, tem dias em que isso é a última coisa que nós gostaríamos de ouvir, ainda mais quando nossas expectativas e planos são frustrados. Que o Senhor tenha misericórdia de nós, essa estranha dualidade de pó e glória. Deus te abençoe!!!
Oi Luisa, encontrei seu blog e estou “maratonando” os seus textos. Acredito que existem estações na vida que nos “perdemos” tentando encontrar respostas para algumas coisas, ou nos perdemos pois não sabemos direito como passar por transições e mudanças. O fato é que me encontro bem nesse período, nesse limbo de tentar entender as mudanças e não perder de vista tudo aquilo que o Senhor fez crescer dentro de mim. Ler seu texto me trouxe à memória minha humanidade e limitação mas também me fez lembrar da força e incorruptibilidade de Deus, em em eu posso descansar. Ele me suporta, quando eu mesma sou incapaz de fazer isso. Obrigada por abrir seu coração aqui. (sei que esse texto é de 2018, talvez você já tenha até mudado de pensamento), mas que bom que pude encontrar e ler tudo isso. Que o Senhor continue te encontrando e dando sentido para os seus dias. Abraços! 🙂
Para ser bem sincera nem sei por onde começar, Lu isso me tocou diretamente no meu coração a ponto de sair tirando print para anotar em meu caderno pessoal e nunca esquecer. suas palavras me lembraram que existem pessoas assim com o eu que tem muita coisa acontecendo na cabeça que muitas vezes fica difícil de verbalizar tudo, também me lembrou que Deus é suficiente e que todas as lacunas eles preenche, impedindo que tudo “vaze” e vire uma grande bagunça.
❤️
Incrível
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Luisa, primeiramente parabéns pelo texto. Você é uma pessoa muito especial e consegue tocar fundo no coração das pessoas através do seu blog e das suas postagens. Eu preciso te agradecer imensamente porque você foi uma das pessoas que me fizeram ter vontade de frequentar uma igreja novamente e agora, comecei a ler mais a bíblia depois das suas dicas no insta e isso tem sido maravilhoso para mim. Ainda não tenho uma igreja fixa, nem evangélicos na família, mas saiba que você me inspira demais a ser uma pessoa melhor. Obrigada e que Deus te abençoe cada dia mais!!